segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Os Mercenários


Filme que Stallone rodou no Brasil e que reúne vários astros dos filmes de ação (Stallone, Jet Li, Jason Statham, Dolph Lundgren, e participações de Bruce Willis, Mickey Rourke, Arnold Schwarzenegger, etc), além da brasileira Giselle Itié, que curiosamente era cliente nossa lá na 2001 Video da Cidade Jardim.

Um título alternativo pro filme poderia ser "Olimpíadas da Morte", ou então "Matando com Eficiência"... Vendo o filme fica claro que o único interesse dele é em mostrar pessoas cometendo assassinatos de uma maneira impressionante. Não dá nem pra dizer que é um filme de ação, pois se o filme valorizasse ação, as cenas não seriam tão confusas e mal filmadas. O filme é sobre dar porrada, sobre o prazer de se sobressair fisicamente em relação a alguém, especialmente quando a sua namorada está olhando.

E o filme pressupõe uma certa natureza agressiva e competitiva no espectador. Tem um pouco a ver com esportes - o ato de matar, de dar porrada, aqui é nivelado a uma modalidade esportiva, à exibição de uma habilidade física desconectada de valores, de significado. Bater por bater, e isso em si já deveria ser legal. E, assim como nos esportes, a escolha do "time" é aleatória. A gente torce para o Stallone porque ele está na capa do filme, porque ele é um ator mais famoso do que o bandido, e por outros falsos valores. Não porque o personagem está mais certo, ou porque ele tem sentimentos mais nobres. TODOS são vilões e assassinos.

Não tenho nenhum problema com violência em filmes (adorei o último Rambo por exemplo). Mas pra eu tirar qualquer prazer disso, é preciso que haja um duelo de idéias além de um duelo físico. Os bandidos têm que ser detestáveis, irritantes. Quanto mais detestáveis eles forem, maior será o prazer em vê-los explodindo na tela. E como não há muita distinção moral entre mocinhos e bandidos em Os Mercenários, o filme perde o único prazer real que poderia provocar.

The Expendables (EUA, 2010, Sylvester Stallone)

Orçamento: US$ 80 milhões
Bilheteria atual: US$ 65 milhões
Nota do público (IMDb): 7.5
Nota da crítica (Metacritic): 4.5

INDICADO PARA: Quem gostou de Esquadrão Classe A, Carga Explosiva, Triplo X, e até Bastardos Inglórios de certa forma. AMIGOS: ???

NOTA: 5.0

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Último Mestre do Ar


O filme é um desastre em quase todos os sentidos, desde os aspectos mais amplos como a mensagem, a filosofia, a "entonação", até detalhes técnicos dos mais banais - as cenas de ação são constrangedoras, os efeitos especiais são de péssimo gosto assim como a direção de arte, os figurinos, os penteados (não sou de reparar nessas coisas mas os cabelos desse filme estão entre as coisas mais feias que eu já vi - até o garotinho principal que é CARECA tem o cabelo horrível). Aliás esse menino é inteiro horrível. E não por ele não ser fotogênico (que de fato não é), mas porque sua atitude é completamente errada. Não tem carisma, sensibilidade (sem dúvida foi escolhido por parecer lutar bem, ter habilidades físicas, e isso cegou o diretor que não viu o mais importante - ele é péssimo). Ou seja, infelizmente o filme é mesmo tão ruim quanto diziam. Mas ruim MESMO, aquele ruim óbvio, aquele ruim Cinderela Baiana...

É o suicídio profissional de M. Night Shyamalan. Não dá nem pra dizer que Shyamalan quis revolucionar, fazer algo experimental ou qualquer outra racionalização do tipo, afinal sabe-se muito bem que sua intenção era fazer um entretenimento popular, inclusive falou em entrevista que o que mais o interessava em Airbender eram as cenas de luta e os efeitos especiais - fracassos óbvios do filme.

The Last Airbender (EUA, 2010, M. Night Shyamalan)

Orçamento: US$ 150 milhões
Bilheteria atual: US$ 198 milhões
Nota do público (IMDb): 4.3
Nota da crítica (Metacritic): 2.0

INDICADO PARA: Quem gostou dos filmes do Pokemon, Mortal Kombat, Street Fighter, Tartarugas Ninja... AMIGOS: Todos (pra gente comentar e rir depois).

NOTA: 0.0

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Os melhores filmes de suspense

 (sem ordem de preferência)



Alfred Hitchcock: Janela Indiscreta (Rear Window, 1954), Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958), Intriga Internacional (North by Northwest, 1959), Psicose (Psycho, 1960)
Daria pra incluir pelo menos uns 10 filmes de Hitchcock nessa lista, mas selecionei estes 4 que pra mim são suas maiores obras-primas. Todos merecem ser vistos e revistos muitas vezes (inclusive os documentários e making-ofs que vêm nos discos e que também são indispensáveis).


O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby, 1968)
Clássico de Polanski, é um daqueles filmes obrigatórios que mesmo quem não assiste clássicos acaba vendo eventualmente (como O Exorcista ou O Iluminado). O ritmo é lento na primeira hora, mas as coisas vão ficando cada vez mais intensas até a inesquecível cena final.




Chinatown (1974)
Polanski de novo. O filme é um exemplo de economia e de elegância em narrativa. Ótimas performances de Jack Nicholson e Faye Dunaway, mais uma trama elaborada envolvendo política, corrupção, escândalos de família, e que conta com a inteligência da platéia pra acompanhá-la, mas sem se tornar confusa demais ou perder o sentido.



Cidade dos Sonhos (Mulholland Dr., 2001)
Pra mim esse é um dos filmes mais originais, ousados e criativos dos últimos tempos. Tive que assistir umas 10 vezes até perceber que a história no fundo fazia sentido.






Encurralado (Duel, 1971) TV
Produzido pra TV, este primeiro filme de Spielberg é uma aula de suspense e é o cinema reduzido a sua forma mais pura. A história é a mais simples imaginável; o sucesso do filme é todo mérito da direção; tudo é conquistado visualmente, na base do suspense, do ritmo, do controle da tensão da platéia.




Louca Obsessão (Misery, 1990)
Uma situação simples, 2 atores, uma cabana na neve, e um suspense que atinge níveis quase insuportáveis (no bom sentido). Baseado no livro de Stephen King; Kathy Bates levou o Oscar de atriz.






O Mensageiro do Diabo (The Night of the Hunter, 1955)
Um dos clássicos mais estranhos, únicos e especiais do cinema. Um conto meio surrealista sobre 2 criancinhas que são perseguidas por um reverendo do mal. Dirigido pelo famoso ator Charles Laughton, que só dirigiu esse único filme em toda sua carreira (tenho a forte impressão de que ele era péssimo diretor e que esse filme é fruto de um daqueles acidentes inexplicáveis que nunca se repetem).


O Salário do Medo (Le salaire de la peur, 1953)
Não se engane achando que um filme francês de 1953 em preto e branco não é capaz de te deixar nervoso. Coloquei esse filme de madrugada só pra pegar no sono e o resultado é que acabei passando a noite em claro. O diretor Clouzot dirigiu também As Diabólicas (1955), outro suspense clássico francês.





O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991)
O único do gênero que ganhou o Oscar de Melhor Filme (consideram ele "horror"), e um dos únicos 3 filmes da história que ganharam todos os 5 Oscars principais (Filme, Diretor, Roteiro, Ator e Atriz). Um dos melhores scripts de todos os tempos; além disso tem Jodie Foster e Anthony Hopkins em seus papéis mais celebrados.



Testemunha de Acusação (Witness for the Prosecution, 1957)
Marlene Dietrich dá um show nessa adaptação do livro da Agatha Christie sobre um homem aparentemente inocente que é acusado de seduzir e matar uma viúva rica pra ficar com o dinheiro dela. Dirigido pelo mestre Billy Wilder, é um dos filmes de tribunal mais divertidos e surpreendentes já feitos.


OUTROS ÓTIMOS SUSPENSES:

- Rebecca - A Mulher Inesquecível (Rebecca, 1940)
- Interlúdio (Notorious, 1946)
- O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane?,1962)
- Amargo Pesadelo (Deliverance, 1972)
- Inverno de Sangue em Veneza (Don't Look Now, 1973)
- Carrie - A Estranha (Carrie, 1974)
- Capricórnio Um (Capricorn One, 1977)
- A Síndrome da China (The China Syndrome, 1979)
- Vestida para Matar (Dressed to Kill, 1980)
- Um Tiro na Noite (Blow Out, 1981)
- Tenebrae (1982)
- Veludo Azul (Blue Velvet, 1986)
- O Jogo de Emoções (House of Games, 1987)
- Sem Saída (No Way Out, 1987)
- Alucinações do Passado (Jacob's Ladder, 1990)
- O Fugitivo (The Fugitive, 1993)
- Na Linha de Fogo (In the Line of Fire, 1993)
- Os Suspeitos (The Usual Suspects, 1995)
- Seven: Os Sete Crimes Capitais (Se7en, 1995)
- Vidas em Jogo (The Game, 1997)
- O Talentoso Ripley (The Talented Mr. Ripley, 1999)
- O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999)

PÓS ANO 2000:

- Amnésia (Memento, 2000)
- Revelação (What Lies Beneath, 2000)
- O Quarto do Pânico (Panic Room, 2002)
- A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen, 2006)
- Vôo United 93 (United 93, 2006)
- O Código Da Vinci (The Da Vinci Code, 2006)
- O Ultimato Bourne (The Bourne Ultimatum, 2007)
- Busca Implacável (Taken, 2008)
- A Caixa (The Box, 2009)
- Os Homens que Não Amavam as Mulheres (Män som hatar kvinnor, 2009)
- O Escritor Fantasma (The Ghost Writer, 2010)
- Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (The Girl with the Dragon Tattoo, 2011)
- Argo (2012)
- Poder Paranormal (Red Lights, 2012)
- A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, 2012)
- Os Suspeitos (Prisoners, 2013)
- O Abutre (Nightcrawler, 2014)
- O Convite (The Invitation, 2015)
- O Presente (The Gift, 2015)
- As Viúvas (Widows, 2018)
- O Homem Invisível (The Invisible Man, 2020)

OS MELHORES THRILLERS SEGUNDO O AFI (considerem que alguns eu já coloquei na lista de terror):

1. Psicose
2. Tubarão (Jaws, 1975)
3. O Exorcista (The Exorcist, 1973)
4. Intriga Internacional
5. O Silêncio dos Inocentes
6. Alien - O 8º Passageiro (Alien, 1979)
7. Os Pássaros (The Birds, 1963)
8. Operação França (The French Connection, 1971)
9. O Bebê de Rosemary
10. Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark, 1981).

CONFIRA OUTRAS LISTAS:

Os melhores filmes de terror
Os melhores filmes de comédia
Os melhores filmes românticos
Os melhores filmes de ficção-científica
Os melhores piores filmes
Os melhores filmes de suspense
Os melhores musicais do cinema
Os melhores filmes cult
Os melhores filmes brasileiros
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Os melhores filmes para a família
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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Meu Malvado Favorito


Sou sempre generoso com filmes que me fazem rir; concordo com Chaplin que dizia que "um dia sem uma risada é um dia desperdiçado". Sendo assim, Meu Malvado Favorito me garantiu pelo menos 1 semana de dias não desperdiçados. Não se trata de uma 'obra-prima' dessas da Pixar - o filme nem tem qualquer ambição artística nesse sentido (a história é absolutamente despretensiosa e até infantil - algo que se encontraria em um desenho do Cartoon Network). Mas gosto que o filme aposte no humor, que busque risadas autênticas. A maioria dos desenhos fica naquele meio termo, num humor familiar, comportado, que não choca ninguém nem corre riscos. O legal aqui é que muitas das piadas são sutis e visuais. Por exemplo, numa das primeiras cenas, percebe-se um tapete feito com pele de urso panda na sala do vilão - quer algo mais politicamente incorreto? Mas a graça não está no tapete e sim na casualidade com que ele é mostrado (são detalhes assim que fazem ou destroem uma piada). Enfim, é um filme light e divertido que não inspira muita discussão. Mas fez mais de 200 milhões só nos EUA e já se fala numa sequência.

Despicable Me (EUA, 2010, Pierre Coffin / Chris Renaud)

Orçamento: US$ 69 milhões
Bilheteria atual: US$ 257 milhões

Nota do público (IMDb): 7.8

Nota da crítica (Metacritic): 7.2


INDICADO PARA: Quem gostou de Bee Movie, Lilo & Stitch e da trilogia A Era do Gelo. AMIGOS: Givago, Thiago P.

NOTA: 7.0

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A Origem


Sucesso de crítica, o filme já faturou quase meio bilhão de dólares no mundo todo e continua em 3º lugar no IMDb na lista dos melhores filmes de todos os tempos. Assim como o último filme de Nolan, Batman - O Cavaleiro das Trevas, acho que é o mais próximo que podemos chegar de uma unanimidade de público nos dias de hoje.

Infelizmente vou ter que discordar de 95% da população e dizer que acho o filme apenas razoável. Acho também ele superficial e manipulador, no mau sentido. Achei um saco ver o filme? Não. Adoro ir ao cinema e nunca vou me entediar com grandes estréias, super produções e filmes ambiciosos. Dou ao filme este crédito (assim como dou a 2012 este crédito), mas em relação ao conteúdo, tudo me soa um pouco como enganação.

"Ah, mas você não achou a trama super inteligente?"

Pra começo de conversa, o filme não explica como é possível entrar no sonho de uma outra pessoa (aquelas cordinhas ligadas no braço não esclarecem nada). O filme é ficção-científica ou pura fantasia nesse aspecto? Mas vamos supor que eles tivessem explicado. Ok, DiCaprio simplesmente pode entrar no sonho de alguém, assim como Ashton Kutcher simplesmente pode viajar no tempo em Efeito Borboleta sem maiores explicações.

Agora vem o problema de que sonhos não se parecem em nada com o que o filme apresenta. Nada é tão previsível, mecânico e calculável como o filme propõe. É preciso que a gente aceite uma versão extremamente simplificada, infantil, pra não dizer ofensiva, do subconsciente humano. Mas vamos perdoar isso e deixar Nolan estabelecer as regras pra contar sua história.

Bem, o problema é que as regras nunca são estabelecidas. Ele vai expondo novas regras ao longo do filme inteiro, e a gente vai só acompanhando tudo passivamente, sem poder usar nossa própria inteligência pra acompanhar o enredo. Qualquer coisa vale. Em Matrix, por exemplo, havia uma regra nonsense de que pra acordar da simulação eles tinham que atender um telefone - não faz sentido, mas a partir do momento em que a regra era estabelecida, não havia qualquer dúvida. Podíamos usar isso pra entender e prever a mecânica da história.

Não há clareza o suficiente em A Origem pra podermos acompanhar o enredo e tirar qualquer satisfação disso. E não há suspense quando não se conhece as regras.

Pra que serve exatamente a música da Edith Piaf? Eles não acordam quando têm aquela sensação de queda dentro do sonho? Mas quando o furgão bate na água, isso na verdade é uma sensação de impacto, não de queda. Então impacto também vale? E se você morre no sonho, você morre na realidade? Hmmm... Se você estiver drogado, talvez. Quem sabe... Talvez não.

Isso inclusive cria um outro problema no filme: cenas de ação em sonhos não geram a menor tensão. É ridículo achar que a platéia irá temer pela vida do mocinho num tiroteio dentro de um sonho. A não ser que fique bem claro que, se você morrer no sonho, você sem dúvida morre na vida real - e ainda assim isso teria que ser justificado e pontuado cena a cena (em Matrix isso era perfeitamente estabelecido - os personagens até cuspiam sangue de verdade enquanto estavam apanhando no sonho - tínhamos uma noção específica do perigo que eles corriam).


A gente acompanha o filme sem nunca saber exatamente o que aconteceu, o que está acontecendo e o que pode acontecer. Minha sensação é de que o filme funciona muito na base da culpa - da vergonha secreta das pessoas de não se sentirem inteligentes o bastante pra acompanharem o raciocínio do filme. Elas pensam "deve ser inteligente, afinal eu não estou entendendo nada". Mas com um pouco mais de confiança, elas pensariam "se eu que tenho uma mente completamente lúcida e saudável não sei o que está acontecendo, então o problema é do filme".

Agora vamos esquecer toda a falta de clareza e lógica da história. Mesmo que tudo fosse muito bem explicado tim-tim por tim-tim, duvido que o filme teria sido muito melhor, porque a história em si não tem muita força. Será que aceitar esse trabalho era realmente a única forma de Leonardo DiCaprio voltar para os seus filhos? A situação é imprescindível? Será que eu me identifico o suficiente com o personagem pra me importar por ele? E quanto a sua missão? Há grandes escolhas envolvidas? Conflitos morais? Será que eu me importo se DiCaprio vai cometer o crime, implantar a idéia na mente de Cillian Murphy, da mesma forma que eu me importava se Michael Corleone iria ou não matar os 2 mafiosos na cena do restaurante em O Poderoso Chefão? E quanto a sua esposa? Será que eu sei qualquer coisa a respeito dela pra poder me importar? E sobre os filhos? NÃO pra tudo isso. O que fica é só uma sensação vaga e superficial de que o amor é "poético", e de que a vida é trágica e "profunda".

Mas Nolan é um mestre da persuasão, e ele passa uma rasteira intelectual na platéia (que até então poderia se queixar da falta de sentido da história) com um argumento falso, porém muito sedutor, de que a realidade não é concreta, de que a razão é relativa, de que nossa percepção é uma miragem, de que não adianta tentar entender nada - inclusive o próprio filme, afinal a vida é tão misteriosa... E tudo aquilo que ficou mal escrito no filme é subitamente esquecido e perdoado pelo espectador.

A Origem é um filme irracional cujo objetivo é sancionar a irracionalidade, e ele conta justamente com a confusão da platéia pra fazer sentido. Não deixa de ser brilhante de uma maneira meio perversa.

O interessante é que um filme com essa história e essa filosofia (que a realidade é subjetiva) SÓ poderia ser ele em si confuso e complicado. Afinal a produção de um filme (ou melhor, a produção de um BOM filme) exige tanto conhecimento do mundo real e do funcionamento da mente, que seria improvável alguém fazer um bom filme cuja mensagem é justamente a de que "não há lógica nas coisas". Um artista que acredita que 2+2 pode ser 5, usará o mesmo cérebro que chegou a essa conclusão pra escolher as melhores posições de câmera, a melhor iluminação pra cada cena, pra escrever os diálogos, criar os personagens, definir o tema do filme, e sem dúvida sairá tudo um lixo. A criação de um filme exige tanta confiança na realidade, que apenas por acidente um bom filme poderia ser feito por alguém que negue esta realidade. Assim como apenas por "sorte" um prédio pode ser erguido por um arquiteto que negue a existência da gravidade. Que um médico poderia fazer um bom parto achando que bebês vêm de cegonhas. Ou que um mágico poderia fazer um bom número de adivinhação acreditando realmente em telepatia.

No fim das contas, organizando toda a bagunça, o que sobra em A Origem é a seguinte mensagem: "não implante idéias artificialmente na cabeça das pessoas que você ama, mesmo que seja para tentar salvá-las, pois elas podem acabar se matando e depois você se sentirá culpado, mesmo não tendo feito nada por mal". Se isso for interessante pra você, então talvez o filme seja melhor do que eu imagino.

Inception (EUA, 2010, Christopher Nolan)

Orçamento: US$160 milhões
Bilheteria atual: US$477 milhões
Nota do público (IMDb): 9.2
Nota da crítica (Metacritic): 7.4

INDICADO PARA: Quem gostou de Ilha do Medo, O Grande Truque, Batman - O Cavaleiro das Trevas, Amnésia. AMIGOS: Todos.

NOTA: 6.5

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Bem Amado


Achei o filme frustrante, pois ele parte de uma premissa excelente pra uma comédia mas não desenvolve muito bem todo o potencial cômico da história. Pra quem não viu a novela, O Bem Amado é sobre Odorico Paraguaçu (Marco Nanini, um pouco exagerado demais no papel) um prefeito malandro que inaugura um cemitério na cidadezinha de Sucupira mas não pode fazer a grande inauguração da obra pois ninguém morre na cidade (sua reputação depende disso!). Ou seja, é uma premissa lógica que provoca uma inversão completa de valores e cria uma situação perfeita pra piadas, pois Odorico precisa desesperadamente que morra alguém. Mas o filme não explora muito bem a situação. Ele não procura as piadas naturais dessa história - vira mais um filme sobre "ironias do destino", sobre o azar de Odorico. Um retrato cínico da decadência moral, do "jeitinho brasileiro". E o filme também tem pretensões intelectuais, criticando explicitamente a política nacional.

Pegue a trama do clássico de Mel Brooks Primavera para Hitler - um produtor de teatro malandro descobre através de seu contador que pode ganhar mais dinheiro com um fracasso absoluto do que com um sucesso - ele precisa então produzir a pior peça de todos os tempos. Aqui há uma inversão de valores igual à de O Bem Amado. Mas Primavera consegue espremer o melhor da situação. Ele desmembra a história em partes - a busca pelo pior roteiro, a busca pelo pior diretor, a busca pelo pior elenco - e o clímax, logicamente, é a apresentação da peça para os críticos (as cenas são diferentes, mas a fonte do humor é sempre a mesma inversão de valores). O Bem Amado devia ter feito algo semelhante - o clímax natural dessa história seria a inauguração "espetacular" do cemitério, que nunca ocorre aqui dessa forma. Eu teria feito um enterro fantástico, transmitido ao vivo pela televisão, com música, dança, mulheres sensuais carregando o caixão... Mas enfim, podemos guardar a idéia pra um outro filme.

(BRA, 2010, Guel Arraes)

INDICADO PARA: Quem gostou de O Auto da Compadecida, Romance, etc.

NOTA: 6.5